fevereiro 21, 2020
Johnny Depp: “É uma honra contar a história das vítimas de Minamata”

O Paris Match publicou seu resumo da entrevista coletiva cedida pelo elenco e equipe de “Minamata”, hoje, no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim. Leia a tradução a seguir.

O ator americano Johnny Depp produz e estrela “Minamata”, um filme que investiga os estragos causados pela poluição por mercúrio no Japão.

A responsabilidade de um grande ator que tem poder financeiro para montar projetos em seu nome. Em “Minamata”, Johnny Depp interpreta o lendário fotojornalista americano William Eugene Smith que, em 1971, foi ao Japão para testemunhar os estragos da poluição industrial nesta pequena vila de pescadores. “Eu sempre tive esse fascínio por Eugene Smith, por suas fotos, é claro, e também pelo que ele passou na vida. Quando li os sacrifícios que ele fez para fazer essas imagens, fiquei chocado”. O ator admite se reconhecer nele. “Quando ele estava de mau humor, ele dizia que o W significava Wonderful [Maravilhoso] Eugene Smith”, disse ele. “Quando li a história pela primeira vez, esse pesadelo causado pela liberação tóxica de mercúrio na água, não pude acreditar. Parecia incrível que algo tão horrível pudesse acontecer. As vítimas estavam desamparadas, só posso imaginar o que as famílias passaram.”

Assim que leu essa história, ele quis produzir o filme. “Disse para mim mesmo: ‘esta história, você precisa contá-la’. Sempre que temos a oportunidade ou o poder de alavancar as pessoas para abrir seus olhos para desastres como esse, precisamos fazê-lo. É uma honra e um dever contar uma história como essa ao público. O cinema tem o poder de transmitir uma mensagem importante. Para mim, sim, é realmente uma honra. Toda a equipe é responsável por contar a história de Eugene Smith e Aileen e do povo de Minamata”.

“Como qualquer cidadão, enfrentamos problemas que vão além de nós, como desastres de saúde ou industriais, incêndios que devastam tudo. Existe um símbolo chinês que significa “o poder dos pequenos”. Quando nos deparamos com essas enormes catástrofes, gritar sozinho é inútil. Devemos estar cientes dos problemas globais e, sobretudo, transmitir a informação”, acrescentou.

“Johnny é muito modesto. Desde o primeiro dia, ele tem sido a força motriz por trás desse projeto. Publicamente, ele nunca colherá os louros, mas tudo o que fizemos, tudo o que é importante para nós neste filme, vem dele”, acrescentou Andrew Levitas, o jovem diretor. “É um filme que mexe com grandes corporações, governos. Estamos falando de poluição industrial aqui”. Ao lado dele estava Aileen Mioko Smith, viúva de Eugene Smith, cuja história também é contada no filme. “Foi o seu último projeto. Graças a suas fotos, ele ainda está presente entre nós. Eu ainda estava em Minamata na semana passada. O que me choca é que continua até hoje. Sempre há pessoas tentando lutar por justiça. Crianças muito pequenas ainda são envenenadas por mercúrio”. O diretor de fotografia, o francês Benoît Delhomme, resumiu melhor o impacto do trabalho de Eugene Smith na tragédia “Minamata”: “Suas fotos são mais fortes que milhões de palavras”.

Johnny Depp poderia ter dirigido o filme? A ideia não lhe ocorreu. “‘O Bravo’ [seu único filme como diretor] é uma experiência especial, tive a impressão de que minha cabeça explodia todos os dias para separar o ator do cineasta. Entendi o problema então: não vou mais fazer um filme com Johnny Depp como ator (risos) e odeio me ver na tela novamente”. Nenhum Johnny atrás da câmera, portanto, mas ele permanece “um fã de fotografia. As melhores fotos que tirei foram instantâneos, de momentos acidentais”.