Johnny Depp falou por telefone com a Entertainment Weekly sobre o processo de criação de Gellert Grindelwald para Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald. A revista entrevistou o ator sobre como foi se unir à franquia e caracterizar Grindelwald, sobre a sexualidade do personagem e a reação de fãs de Harry Potter que contestaram sua participação no filme.
EW: Vamos voltar ao início, antes do primeiro filme. Você era um fã de Harry Potter antes de tudo isso?
JOHNNY DEPP: Eu li os livros quando meus filhos eram menores e assisti aos filmes com eles. Os livros são esplêndidos. O que J.K. [Rowling] conseguiu fazer é muito difícil de conseguir como escritor – criar um universo novo por completo e um conjunto de regras. E você entende isso em uma tacada só no primeiro livro e no primeiro filme. É muita informação e eu fiquei maravilhado – você nunca se sente como se estivesse sendo sufocado com explicações e nem que a obra é condescendente com você. É boa literatura e, por si só, bem escrito. Cumpre todos os requisitos. E eu tinha muitos amigos no filme, como Robbie Coltrane (Hagrid), um grande amigo. Richard Griffiths (Vernon Dursley) era um grande amigo, que descanse em paz. Então, eu estava bem familiarizado com eles e muito impressionado.
Você se encontrou com Rowling inicialmente?
Nós falamos por Skype. Tivemos uma longa conversa. Nos reunimos de novo quando fui a Londres para testes de figurino. Desde o primeiro segundo tem sido um prazer e a experiência mais positiva e divertida. A oportunidade de interpretar um dos seus personagens e de tentar trazer algo para o papel que, com sorte, surpreenda-a, ou surpreenda [o diretor David] Yates, foi um grande desafio, mas empolgante. Muito divertido.
O que inicialmente te atraiu para interpretar Gellert Grindelwald?
Achei o personagem fascinante e complexo. Meu instinto era que ele era como a versão humana de Finnegans Wake: o romance de James Joyce começa e termina na metade de uma sentença. Você começa [a leitura] no meio de um pensamento e o percurso é bem confuso.
No primeiro filme, Colin Farrell interpretou Grindelwald, disfarçado como Percival Graves. A interpretação dele influenciou as coisas de alguma forma?
Influenciou, mas nem tanto. Enquanto Grindelwald fingia ser Graves, a preocupação é interpretar Graves. Acredito que os momentos mais contemplativos de Colin – os momentos mais silenciosos –, para mim, eram os momentos que eu via partes de Grindelwald.
Você é conhecido por se envolver na criação de seus personagens. Nós pudemos ver Grindelwald brevemente no primeiro filme, você pôde opinar a respeito dessa primeira aparição?
Eu tinha uma imagem na minha cabeça desse cara. A beleza de J. K. e Yates é que eles confiam em mim até certo ponto. J. K. e eu tivemos algumas conversas muito boas e eu tive algumas ideias e ela disse “Mal posso esperar para ver o que você fará com ele”. Foi lindamente deixado como um presente em aberto.
A concepção do personagem evolui de alguma forma entre os dois filmes?
Grindelwald é brevemente introduzido no primeiro filme. Houve inúmeras coisas no segundo filme que pudemos conectar e usar que fornecem uma percepção de Grindelwald e tudo isso é graças à abordagem dada por J.K. ao personagem. Às vezes, as coisas aparecem e aparecem para mim em momentos e é importante prestar atenção ao que quer que seja, quando você tem um certo instinto sobre algo. Eu sempre sigo meu instinto. Ela e David foram ótimos em relação a me permitir sair do roteiro e dos diálogos como estavam escritos e tentar algumas coisas. Coisas acontecendo ao acaso. Para mim, isso é o mais satisfatório – erros ou acidentes.
Ele agora tem, como um dos seus coprotagonistas chamou, um “Olho Assustador”, um olho é diferente do outro. Há uma história por trás disso, é só pra assustar?
É parte da caracterização do personagem. Vi Grindelwald como mais de um, se é que me entende. Eu quase senti como se talvez ele fosse duas pessoas. Gêmeos em um corpo. Então, um olho manchado é mais como se fosse o outro lado dele. Meio como um cérebro para cada olho, um gêmeo albino, e ele está em algum lugar em meio a isso.
Baseado no que alguns colegas de elenco disseram, alguns fãs farão comparações com Donald Trump. É verdade?
Eu não vejo nenhuma comparação com Donald Trump. Para mim, há alguma coisa quase infantil em Grindelwald. Seu sonho é que o mundo bruxo se erga grandioso e superior. É um elemento fascista, e não há nada mais perigoso que alguém que é um sonhador com uma visão específica, que é muito poderosa e perigosa, que ele conseguiria tornar realidade. Mas personagem nenhum levanta da cama e diz “Hoje, vou cometer os piores atos possíveis e ser malvado”. Eu realmente acredito que Grindelwald é um personagem estranhamente fácil de se gostar.
O que Grindelwald pensa a respeito de Dumbledore à essa altura?
Acho que ele está apenas esperando. Ele anseia pelo inevitável confronto entre os dois. Acredito que há muito resíduo deixado para trás de dias passados. Eles criaram laços consideráveis, sabe? Quando você amou alguém, e se importou com essa pessoa, e termina em uma arena de combate – como aconteceu com Dumbledore e Grindelwald – é muito perigoso quando se torna pessoal.
Tem-se falado muito a respeito da sexualidade de Dumbledore e o quanto dessa questão deveria estar no filme, mas há poucas especulações sobre Grindelwald. Como você vê a sexualidade do personagem e o quanto ela é aparente em sua representação?
Acredito que isso deve ser deixado para o público sentir primeiro e no tempo certo. Torna a situação com Dumbledore ainda mais intensa. Acho que há ciúmes por causa de Scamander. Ele vê Scamander como o protegido de Dumbledore – seu filho, de certa maneira. Por si só, isso é o suficiente para Grindelwald querer destruir Scamander de um jeito feroz e definitivo.
Outra controvérsia que envolveu sua participação no filme: o diretor, o estúdio e Rowling emitiram declarações de apoio. Como foi para você? E há alguma coisa que queira dizer aos fãs que ainda estão indecisos sobre ver o filme?
Serei honesto com você, me senti mal por J. K. ter que lidar com todos esses sentimentos variados das pessoas lá fora. Me senti mal por ela ter que lidar com isso. Mas, no final das contas, há controvérsia real. O fato se mantém sendo que fui falsamente acusado, e é por isso que estou processando o jornal The Sun por difamação, por repetir acusações falsas. J.K. viu as evidências e, por isso, ela publicamente me apoiou. Ela não lida com as coisas sem seriedade. Ela não se pronunciaria se ela não soubesse a verdade. Então, é realmente isso.
Mais alguma coisa que gostaria que os fãs soubessem?
Algumas coisas. Sinto que a principal coisa para um ator é sua lealdade. É meu trabalho reforçar a visão do autor e ser fiel à visão do diretor. E, além disso, há, ainda, a fidelidade à minha visão. É uma grande responsabilidade, ser quem tem as chaves do carro. Minha intensa lealdade não é apenas à J.K. e David Yates, mas às pessoas que vão ver os filmes também, pessoas que investiram suas vidas nesse magnífico e incrível mundo criado por J. K. Eu encarei esse personagem com tudo, de cabeça, sabendo a responsabilidade que tinha. É bom levar o público em uma jornada que ele não necessariamente esperava, contudo, com grande respeito ao mundo que o público passou a entender e conhecer. Os fãs de Potter são como estudiosos, o que acho incrivelmente impressionante. Eles conhecem aquele mundo do avesso. Espero lhes dar alguma coisa que nunca viram.
Tradução: Patrícia (Equipe Johnny Depp Forever)