agosto 14, 2018
Entrevista com Johnny para a revista alemã TV Movie

“Agora eu falo!” Johnny Depp

Violência, divórcio, dívidas, álcool, anorexia, depressão – rumores sobre Johnny Depp não param. O que realmente está acontecendo com o astro de “Piratas do Caribe”? TV Movie o encontrou em Hamburgo.

IN: É ótimo que você esteja visivelmente melhor. Recentemente, tem havido várias especulações de quais doenças você poderia estar sofrendo porque você perdeu muito peso?

JD: Não muito tempo atrás, diziam que eu estava inchado. Alegam que eu grito de modo confuso ou tenho problemas em usar as palavras. Sempre pensei que falo devagar… calmamente. Não importa o que eu faça, as manchetes principais sempre acham um problema. É por isso que eu não leio mais o que escrevem sobre mim. Porque a criatividade precisa ficar longe desse circo, onde os outros querem fazer dinheiro com a sua vida.

IN: É por isso que você não usa mídias sociais?

JD: Honestamente, eu não sei como Facebook e afins funcionam, então eu teria que contratar alguém para registrar minha presença nas mídias sociais. A ideia de que mais pessoas comprariam ingresso para os filmes se eu postasse fotos do meu café da manhã no Instagram é bobagem. Estou na mídia há tempo suficiente para lembrar de carreiras que não precisavam de Twitter. E eu gosto de não ter que viver pescando likes e retweets dia e noite.

IN: Então é tudo calúnia, o que é ouvido e lido sobre você… de pessoas invejosas?

JD: Se eu pensasse sobre isso… talvez. Por exemplo, gastei muita grana em guitarras bacanas nos últimos anos. A questão de que mereço uma Gibson Lee que vale uma casa de uma família inteira aparece tão logo que minha guitarra é vista nas fotos ou no palco.

IN: Agora estamos falando de guitarras?

JD: Eu estou. Sobre o que você quer falar?

IN: Por exemplo, sobre seu absoluto e lendário consumo de vinho – supostamente por $ 30,000 no mês?

JD: Aqueles que vendem garrafas empoeiradas em salas de temperatura controlada asseguram seu sustento, mas não entendem o espírito do vinho. Um porão cheio de vinho faz sentido se você gosta de beber com seus convidados alguns nobres goles, pelos quais não precisou pagar grande coisa em uma loja de descontos. Bom vinho pertence às taças, não às garrafas, uma boa guitarra pertence aos palcos, assim como um carro esportivo pertence às ruas.

IN: Tem sido dito que você está falido. É verdade?

JD: Há algo que aprendi na vida: dinheiro não traz felicidade pra ninguém. Não se estiver na sua conta bancária e nos dias de hoje sequer rendem juros mais. Posses que você acumula não o torna rico. Você só é rico quando compartilha suas posses com alguém.

IN: Então você prefere gastar seu dinheiro?

JD: Eu invisto na qualidade de vida do “aqui e agora”, muito mais do que num futuro incerto.

IN: Seu corpo está coberto de tatuagens – é algo para a eternidade?

JD: Isso seria ótimo, mas sabemos que desde a minha “Wino Forever” que não é bem assim. (Nota do editor: Após a separação de Winona Ryder, Johnny diminuiu sua tatuagem de “Winona Forever” para “Wino Forever”). Pra mim, minha pele não é a única mas é definitivamente um espelho da minha alma. Uma tela de pintura onde posso expressar meus sentimentos.

IN: E o que acontece quando mudam seus sentimentos por uma mulher imortalizada na sua pele?

JD: Minha pele tem cicatrizes que nem o melhor tatuador consegue cobrir quando precisa fazer correções para um desenho. Mas cicatrizes contam histórias muito mais interessantes do que uma pele impecável.

IN: Você toca em palcos do mundo todo com Alice Cooper, Slash, Paul McCartney e o guitarrista do Aerosmith, Joe Perry, no Hollywood Vampires. Este caminho está te levando a deixar de atuar?

JD: Não! Como guitarrista e ocasionalmente cantor eu não sou o mais enérgico no palco. Nós, o Hollywood Vampires, não somos astros da música ou uma boy band geriátrica ultrapassada. Não há um condutor, coreógrafo ou diretor. Cada um de nós se apresenta no palco da maneira que deseja. Gostamos de tocar como amigos canções que amamos e de permitir a nós mesmos um banho de emoções. Este é o verdadeiro luxo, porque não há preço para tamanha experiência.

IN: Como você descobriu a música?

JD: Minha mãe me deu minha primeira guitarra quando eu tinha 12 anos. Nos mudamos muito durante minha infância e a guitarra não era a única mas com certeza era a minha melhor amiga. E foi assim até que finalmente nos estabelecemos em Miramar, Florida, e eu logo comecei a tocar em várias bandas.

IN: Você era bom?

JD: Eu pensava, na época, que eu era muito bom… mas não tenho certeza hoje se era realmente este o caso.

IN: Como guitarrista principal do “The Kids”, você mudou pra Los Angeles com a banda para se tornar um astro do rock…

JD: Nós mudamos o nome da banda pra Six Gun Method, mas o acordo com uma grande gravadora não deu certo.

IN: Por que não?

JD: Provavelmente, eu não deveria ter me casado com a irmã do nosso baixista. Não que Lori fosse nossa Yoko Ono. Pelo contrário. Ela era maquiadora enquanto eu estava tentando vender canetas e relógios em um call center. Mas Lori me apresentou a Nicolas Cage, que me aconselhou a tentar ser ator.

IN: Atuar foi mais fácil?

JD: Não. Mas atores são responsáveis pelo próprio sucesso ou vão falir sozinhos. Aquilo me atraiu mais. Numa banda coletiva muita coisa pode dar errado. Na frente das câmeras deu certo. Em 1984 Freddy Kruger me fez ser engolido por um colchão d’água. O resto da minha carreira é, como diz o ditado, história.

IN: Um ano depois você e Lori se divorciaram. O que deu errado?

JD: Eu estava sempre sem grana e isso provavelmente não era mais tão charmoso como nosso primeiro encontro.

IN: Carreira de sucesso e dinheiro são importantes em um relacionamento?

JD: Eu apostei no meu sonho, mas acreditar sozinho não deu à minha esposa a segurança que nossa relação precisava.

IN: Você ainda acredita em amor verdadeiro?

JD: Absolutamente. Contudo, hoje em dia penso que, se sou capaz de reconhecer um amor verdadeiro, que a pessoa o mereça ou ao menos aguente firme.

IN: Existe algum exemplo de amor verdadeiro na sua vida?

JD: Dois. Meus filhos, Lily e Jack.

IN: Que você tem com a cantora Vanessa Paradis. Separação e mudança na tatuagem veio depois de 14 anos de casamento…

JD: Sim, mas isso não manchou a relação com meus filhos. Apesar do pai caótico deles, os dois são a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eles me tornaram uma pessoa melhor.

IN: Sua filha esteve meio doente – depois da recuperação dela você doou um milhão de libras para a clínica de Londres. Por que?

JD: Isso era pra ser secreto, mas acabou motivando outros doadores a apoiar aquele hospital. No fim, tudo caminhou para o melhor.

IN: Uma citação sua: “Amizade é mais importante para um homem do que amor!”.

JD: Eu não ia falar disso hoje. Contudo, acredito que uma amizade entre dois homens é muito menos complicada que o amor entre um homem e uma mulher. Quando meu coração vai abaixo numa montanha-russa, as amizades são extremamente importantes.

IN: Amizades? Plural?

JD: Sim, mas tenho cada vez menos.

IN: Alguns últimos desejos de seus falecidos amigos custou a você uma boa grana e te trouxe alguns problemas…

JD: Verdade. Tornar real um último pedido de alguém parece o certo pra mim. Mas notei, algum tempo atrás, que eu não tinha o dinheiro que pensei que tinha. Então, meus advogados solicitaram uma boa grana de volta dos meus consultores financeiros e nós acabamos não apenas nos tribunais, mas “fontes anônimas” informaram a mídia detalhes sobre quanto dinheiro eu tinha alegadamente gasto e tudo quanto é tipo de coisa.

IN: Incluindo os 3 milhões que você gastou no funeral do jornalista Hunter S. Thompson?

JD: Sim – e o vinho de que falamos no começo dessa entrevista.

IN: Você tem visitado os tribunais com mais frequência?

JD: É difícil evitar numa sociedade onde pode ser extremamente lucrativo acusar um homem como eu.

IN: Você sempre é inocente?

JD: Eu sou emocional, eu confronto e eu dou um bom motivo a potenciais opositores. Não me importo se alegações contra mim são investigadas pela polícia, promotores e tribunais. Só assim que fatos podem ser separados de ficção.

IN: Você gosta de ser o herói nos filmes?

JD: O papel dos heróis clássicos nunca me interessaram. O fato é que nossa cultura tem uma queda por bad boys. É por isso que eu sempre interpreto meus papéis de forma meio esquizóide. Meus heróis têm seu lado sombrio que os torna interessantes pra mim.

IN: Seria “esquizóide” um bom termo para papéis como Capitão Jack Sparrow?

JD: Jack é um pirata que simplesmente não compactua com as convenções da sociedade em termos de propriedade, lei e ordem. Quando Jack para em um porto, ele rouba um navio a fim de atingir seu objetivo.

IN: Quão importante é a verdade para você?

JD: Na frente das câmeras só estou interessado numa boa história – não importa se é verdade ou não. É por isso, com algumas exceções, que não faço documentários.

IN: Você é uma pessoa moral?

JD: Eu não me julgo dessa forma. Infelizmente, não é sempre que vivo de acordo com meu próprio padrão de moral e eu uso minha culpa – ou o que quer que você goste de chamar – como combustível para dar aos meus papéis força e verdade.

IN: Sobre sua escalação como Grindewald em “Animais Fantásticos 2”, você tem recebido protestos do movimento MeToo. Como você se sente quando está sendo alvo da opinião pública de novo e de novo?

JD: Eu respiro fundo e tento seguir minha vida. Nada justifica violência contra uma mulher. Cada acusação, cada alegação deve ser cuidadosamente examinada pelas autoridades policiais competentes.

IN: Falando em violência contra mulher: o porta-voz da polícia de Los Angeles confirmou que em 21 de maio de 2016, uma viatura foi até seu apartamento em South Broadway porque uma chamada de emergência alertou a polícia sobre violência doméstica. Chegando lá, a polícia interrogou todos que estavam presentes, examinou os cômodos e concluiu que nada criminalmente relevante havia acontecido. Ainda assim, sua então esposa Amber Heard obteve uma ordem de restrição que o impedia de se aproximar dela – e ela pediu o divórcio…

JD: Eu preciso te interromper aqui. Certamente você chegou a saber durante sua pesquisa…

IN: … há uma cláusula, como parte do acordo de seu divórcio, que silencia todos os envolvidos.

JD: Assim como a polícia, o juiz determinou durante nosso divórcio até que ponto as acusações de Amber contra mim eram legítimas e legalmente relevantes. Agora, não é de interesse da mídia mostrar a rejeição dessas acusações de novo e de novo.

IN: Lembrando que a ordem de restrição que o proibia de se aproximar de Amber Heard foi retirada pouco depois – logo após seus advogados negociarem o essencial, especialmente os detalhes financeiros de seu divórcio.

JD: Por favor, será que podemos voltar a falar de guitarras, música e filmes?

IN: Como você lida com tantos problemas que obviamente não podem ser resolvidos por você e às vezes por ninguém?

JD: Com paciência. Acho que todos os problemas podem ser resolvidos com paciência. Qualquer sonho pode se tornar realidade. Nunca desisti do meu sonho de ser um guitarrista dos grandes palcos – nem mesmo enquanto trabalhei na minha carreira de ator. Onde quer que eu estivesse, sempre tive uma boa guitarra em mãos. Eu sei que algumas pessoas dão risada de mim, ou me ridicularizam pelas costas. Eu posso ignorar isso. Porque meu sonho não se tornou realidade pelo meu destino ter sido generoso comigo. Meu sonho se tornou realidade porque eu o tornei realidade junto aos meus amigos. Então eu sigo meu próprio caminho e faço o meu trabalho. Não importa se interpreto Grindewald em um filme, ou componho novas canções com o Hollywood Vampires e as gravo no estúdio. Não importa se pego uma parte da minha grana perdida de volta ou se eu tenho de ganhar tudo de novo. Eu levanto de novo, sacudo a poeira das minhas roupas e sigo meu caminho.

Essa entrevista com Johnny Depp foi feita pelo jornalista Jerry Wagner na ocasião do show do Hollywood Vampires em Hamburgo. Wagner falou com Depp no Hyatt Hotel e nos bastidores. Ambos se conheciam de encontros anteriores: “Mas dessa vez fiquei impressionado com a abertura de Johnny, o humor e a emotividade dele”, diz Wagner.

Agradecimentos à @DrMCaligari por traduzir a entrevista do alemão para o inglês e Sarah (Equipe Johnny Depp Forever) por traduzir para o português.